Literatura e cinema: do sertão à favela
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Literatura e cinema: do sertão à favela Mariana Gesteira da Silva A literatura e o cinema, no Brasil, relacionam-se de maneira, ainda que inconstante, desde o século XX. Ambos os meios vêm mantendo os mesmos temas sociais, apesar de nem sempre terem sido apresentados na mesma época. Assim, o cinema da década de 1960 dialoga com a literatura regionalista, que, embora não lhe seja contemporânea, fornece-lhe o tema do sertão, possibilitando olhar para uma realidade distante dos grandes centros urbanos. No entanto, os temas sociais desaparecem por algum tempo, e passamos a ver filmes e livros, que, ora abordam política partidária e ditadura , ora temas metafísicos e existenciais. A partir da década de 1990, os temas sociais retornaram tanto na literatura quanto no cinema, num movimento em que prevalece uma relação ética com a realidade por parte de escritores e cineastas. Contudo, o dado significativo que a última década trouxe consigo diz respeito a uma produção na qual as pessoas, no interior da favela e da periferia, buscam falar de si mesmas. Este fato se contrapõe à postura adotada anteriormente, na qual o intelectual militante era uma espécie de porta voz da coletividade.
No Cinema Novo, os cineastas buscavam ter uma relação ética com a realidade que lhes circundava. Por essa razão, os temas sociais surgiram como uma forma de construir uma identidade nacional. Os personagens, oriundos do campo, representariam um ideal socialista no qual o povo chegaria ao poder. Naquele momento, o campo funcionava como matriz duma identidade nacional, de maneira que, o intelectual-militante falava pela coletividade. Há, por detrás do Cinema Novo, um projeto em que a arte era uma forma peculiar de engajamento e de militância política. A esquerda defendia a contestação dos conservadores e o campo era o espaço simbólico no qual se permitia discutir a realidade social do país. Deste modo, o cinema de autor afirmava-se, na década de 1960, como expressão estética de