Literatura infantil no fundamenta 1
Quem viveu no sertão do Nordeste até pelo menos a década de 60 do século XX pode Testemunhar e até ter sido protagonista de uma singular experiência com poesia. Poesia genuinamente popular, com sabor rural, vendida em folhetos, sobretudo em feiras, pelos próprios poetas ou por vendedores ambulantes. O nome desta literatura, no meio do povo, não era literatura de cordel. Chamavam de folheto, ou folhetos de feira, e quando a narrativa era mais longa recebia o nome de romance
Antônio Lucena, cordelista e xilogravurista paraibano, contou-nos que quando chegou a Campina Grande, na década de 50, havia na feira central mais de cinco vendedores de folhetos. E como se dava a performance desses vendedores? Muitas narrativas eram cantadas, outras recitadas. Um procedimento comum era suspender a leitura para que os ouvintes comprassem o folheto se quisessem saber o final da estória. E havia narrativas para todos os gostos: animais que falavam, batalhas, estórias de amor, acontecimentos marcantes (tanto em nível local quanto regional ou nacional), pelejas
(uma das formas do cordel mais trabalhadas). E havia também narrativas mais picantes, que circulavam mais de boca em boca.
Esta experiência sofreu inúmeras modificações a partir da década de 60, sobretudo com o encarecimento do papel, que contribuiu para significativa diminuição do volume de vendas.
Hoje, são raros os vendedores de feira. Em Campina Grande, o último que resistia era o poeta
Toinho da Mulatinha, em sua banca de ervas e pinga. Mas já octogenário, o poeta não pode mais se deslocar até a feira.
Viajando no lombo de burros e jumentos, inúmeros nordestinos se deslocaram para as feiras levando milho, feijão, algodão para lugarejos próximos ou distantes, muitas vezes nas
POESIA E ESCOLA 18 .imediações de uma estação ferroviária. Quando voltavam, traziam mantimentos como sal, sabão, açúcar e tantos outros que não produziam. Muitos traziam também um folheto