Literatura dramatica
Regimes de narratividade no teatro
Artefilosofia, Ouro Preto, n.2, p.149-155, jan. 2007
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Daniel Furtado Simões da Silva*
Qualquer pessoa que já tenha participado de uma montagem teatral baseada ou inspirada em um texto literário, ou que já tenha se debruçado sobre as questões envolvidas nesse processo de tradução intersemiótica, deve ter notado as dificuldades de se fazer um emparelhamento entre aquele texto original, que Gerard Genette chama
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áculo, hipertexto de hipotexto, e o espetáculo, o hipertexto . Essa relação é definida por uma transformação ou imitação do texto anterior, mesmo que nessa tradução pouco se conserve do hipotexto que torne reconhecível a ligação existente entre os dois.
Existe sempre a questão do que é que permanece nessa passagem, daquilo que pertencia ao texto literário e se configura ou de
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alguma forma se reflete ou se transfere ao texto cênico . Ao usar o ao termo Texto para me referir ao espetáculo, admito e pressuponho que o teatro tem uma linguagem, que ele pode ser lido e compreendido por um espectador que esteja habituado aos códigos e convenções de uma representação teatral, que esse espectador é capaz de reconhecer naquele evento o que se convencionou chamar de um “espetáculo de teatro”. Se não possuir esse hábito, pode perfeitamente ocorrer que não reconheça aquele acontecimento como teatro, ou simplesmente tome a ficção por realidade, como acontece às vezes com as crianças pequenas que assistem pela primeira vez a uma peça teatral. Supondo, portanto, que nosso espectador tenha a habilidade e o treinamento necessários para distinguir e perceber o que é uma representação teatral, esse ato que toma forma diante dele se configura em um texto, que não apenas pode ser lido como também ser objeto de uma análise semiológica.
O que é esse texto? Trata-se na verdade de um conjunto sêmico, ou um “conjunto analisável de signos”, como afirma Coelho afi 3
Neto
Neto . Possui características