LITERATURA DE GOIAS
No tempo do mil réis, o vintém de cobre era a moeda mais desvalorizada, aquela que mal comprava um doce. Por modéstia e também um pouco por malícia, Cora Coralina batizou com o nome da velha moeda as suas quase memórias, ou meias-confissões, como ela prefere, redigidas em versos. "É um livro tumultuado, aberrante, da rotina de se fazer e ordenar um livro./ Tumultuado, como foi a vida daquela que o escreveu".
Vida tumultuada, cheia de esbarrões do destino que, em vez de provocar desânimo, despertaram no espírito de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, uma fibra de guerreira e uma sabedoria simples, por vezes meio marota, feita de respeito e piedade pelo ser humano, sobretudo pelos que sofrem, mas também com um fundo de ironia mansa e de malícia sem maldade, um humor típico da gente do interior, um sarcasmo angelical, mistura de humildade franciscana e revolta diante das estúpidas repressões da sociedade e da dureza dos costumes antigos, sob os quais se criou, foi educada e que lhe deixou marcas tão profundas na alma:
"Na casa antiga, castigos corporais e humilhantes, coerção,/ atitudes impostas, ascendência férrea, obediência cega./ Filhos foram impiedosamente sacrificados e despojados./ E para alguma rebeldia indomável, lá vinha a ameaça terrível, impressionante/ da maldição da mãe, a que poucos resistiam./ Do resto prefiro não esmiuçar".
Os poemas de Vintém de Cobre são todos escritos neste tom simples e comunicativo, num lirismo quase de toada sertaneja, ricos de experiência humana. Talvez por pudor, ou autodefesa, nunca revelam toda a dureza dos fatos. Ficam nas meias-confissões. E por malícia são chamados de vintém de cobre quando, na realidade, constituem a mais pura e autêntica moeda de ouro.
ALGUMAS FRASES
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”
“O saber se aprende com