LITERATURA CEARENSE
Um dos aspectos relevantes da poética machadiana, que na forma da narrativa faz-se evidente, é sem dúvida o uso do paradoxo e da ironia, que chega por vezes a identificar-se com o sarcasmo, em alguns contos pertencentes à coletânea Histórias sem data, junto com outros escolhidos dentre os que a crítica unanimemente considera os "Melhores contos de Machado de Assis.
Produto do naturalismo, o escritor permanece alheio às modas, mantendo-se acima das escolas. A sua obra não apresenta uma arquitetura épica ou cíclica, nem um plano elaborado a princípio. Os contos, especificamente construídos com elementos e tipos da vida cotidiana não descrevem ações grandiosas nem heróis extraordinários. Os personagens, de grande vitalidade, são barões, coronéis, homens da cidade e da província, escravos, deputados e magistrados, médicos e advogados, comerciantes, padres e sacristães, empregados e funcionários públicos, professores e estudantes, clientes e parasitas, costureiras, prostitutas e viúvas. São indivíduos, testemunhos de um questionamento da existência, que trabalham, sofrem, se divertem, amam e morrem. A nova experiência narrativa de que ele foi o inventor abrange um vasto registro de sensações, evocações e cortes digressivos entre irônicos e sarcásticos com os quais o protagonista-narrador, numa linguagem de aparente naturalidade, envolve o leitor. Temístocles Linhares afirma: "Como o leitor verá o estilo de Machado de Assis é o mais simples, mais claro, mais despido de lantejoulas, o menos retórico possível. Simples aqui não quer dizer fácil, pois nada mais trabalhoso do que alcançar a simplicidade".
Arraigado ao patrimônio intelectual e moral do homem, Machado de Assis não se submete a entusiasmos ou a paixões violentas. O pano de fundo da sua obra é a Corte, a cidade do Rio de Janeiro de meados de Oitocentos, descrita sem ênfase com destaque e objetividade. O ápice da parábola machadiana corresponde à perfeita síntese alcançada entre