Lino castellani
Sem o corpo a alma não goza.
(Adélia Prado)
1. A posição idealista
O homem sempre teve dificuldade em ver claramente e sem preconceitos seu próprio corpo. De maneira geral, sempre houve a tendência entre os filósofos em explicar o homem não como unidade integral, mas como composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). Chamamos a isso dualismo psico-físico, ou seja, a dupla realidade da consciência separada do corpo.
A dicotomia como-consciência já aparece no pensamento grego no século V a.C., com Platão. Esse filósofo parte do pressuposto de que a alma, antes de se encarnar, teria vivido a contemplação do mundo das idéias, onde tudo conheceu por simples intuição, ou seja, por conhecimento intelectual direto e imediato, sem precisar usar os sentidos. Quando - por necessidade natural ou expiação de culpa - a alma se une ao corpo, ela se degrada, pois se torna prisioneira dele. A alma humana passa então a se compor de duas partes, uma superior (a alma intelectiva) e outra inferior (a alma do corpo). Esta última é irracional e se acha dividida em duas partes: a irascivel, impulsiva, localizada no peito; e a concupiscível, localizada no ventre e voltada para os desejos de bens materiais e apetite sexual.
Todo drama humano consiste, para Platão. na tentativa de domínio da alma superior sobre a inferior. Esta perturba o conhecimento verdadeiro, pois, escravizada pelo sensível, leva à opinião e, conseqüentemente, ao erro. O corpo é também ocasião de corrupção e decadência moral, e se a alma superior não souber controlar as paíxões e os desejos, o homem será incapaz de comportamento moral adequado.
Da mesma forma, o amor sensível deve estar subordinado ao amor intelectual. No diálogo O banquete, Platão demonstra que, na juventude, predomina a admiração pela beleza física; mas o verdadeiro discípulo de Eros amadurece com o tempo ao descobrir que a beleza da alma é mais preciosa que a do