Linguística Aplicada
Achei essa entrevista super interessante e em algum momento o assunto de religião é abordado.
Claros enigmas
Entrevista de Carlos Drummond De Andrade a Luiz Fernando Emediato, publicada no Caderno2, do jornal O Estado de S. Paulo em 15 de agosto de 1987
Era inevitável: todas as manhãs ele via a morte no espelho. Não porque a morte tenha sido sempre um tema constante, quase obsessivo, em sua obra amarga, descrente de Deus, do mundo e dos homens. É que via o rosto no espelho, os cabelos brancos, as manchas na pele e descobria: estava ficando velho. A vida estava no fim. E foi assim - falando da morte, desencantado e amargo, mas também irônico e brincalhão - que ele concedeu sua última grande entrevista a um jornal. Quando fez, ao longo de quase quatro horas, um emocionado depoimento de 20 mil palavras, das quais o Caderno 2 publicou três mil - as mesmas que republicamos hoje. Foi com ceticismo e desesperança - mas fazendo questão de afirmar que viver vale a pena, "embora não tenha pedido para nascer" - que ele passou a vida a limpo.
A infância "nem feliz nem infeliz". A juventude - quando pôs fogo em um bonde (puro divertimento). A vida de funcionário público da ditadura Vargas (fidelidade ao amigo Gustavo Capanema, ministro). O cidadão que votou em todo o tipo de gente - de Jânio Quadros aos candidatos do PT. Os livros - mais de 40. Infância, poesia, amor, sexo, morte, política, Deus - Drummond falou como nunca. No final, uma frase que só poderia ser dele: "Eu não acredito em nenhum valor de ordem política, filosófica, social ou religiosa. Acho a vida uma experiência que tem de ser vivida e se esgota, termina. Depois disso, mais nada".
Luiz Fernando Emediato
Emediato - o senhor tem boas recordações da sua Infância?
Drummond - Eu tenho sim. Eu vivia em um meio rural em que criança gozava de grande liberdade. O cenário era vasto e tanto a cidade quanto os arredores, o campo, nos dava uma grande