Linguagem
O dualismo mente/corpo, que marca há séculos o pensamento filosófico e psicológico na cultura ocidental, tem suas raízes no pensamento cartesiano e passou a ser contestado no início do século XX. As distintas teorias que buscaram compreender o desenvolvimento cognitivo humano, o fizeram com base em tal perspectiva dualista. Por um lado, as teorias inatistas do desenvolvimento aderiram à visão cartesiana do homem. De outro, as concepções interacionistas buscam relativizar essa visão introduzindo o papel do meio e da linguagem no desenvolvimento, mas também aderiram a essa concepção. A visão dualista de sujeito começa a ser problematizada a partir do desenvolvimento da história e da antropologia, marcando diversas disciplinas como a psicologia, a psicanálise e a linguística (Lampreia, 1992).
Aristóteles (384-322 a.C.) postula ideias fundamentais que marcaram a tradição. De acordo com sua teoria, tudo o que percebemos é resultado da maneira como a nossa mente é afetada pelo real. No realismo aristotélico, há apenas uma realidade que irá constituir o mundo da experiência humana e um modo único pelo qual é possível perceber essa realidade. As “afecções da alma” são o resultado da relação entre mente e realidade. Se há a intenção de superar a convencionalidade das palavras, devemos recorrer às afecções da alma correspondentes aos signos linguísticos. A solução aristotélica foi adotada pela tradição filosófica até praticamente o século XX e será o mentalismo o principal alvo de ataque das concepções pragmáticas da linguagem no pensamento contemporâneo (Marcondes, 2008).
A partir das obras filosóficas do “segundo” Wittgenstein (1889-1951) acontece o rompimento com a tradição dualista, ou o abandono da lógica cartesiana. Este autor enfatiza o caráter pragmático da linguagem e seu uso social, postulando que o pensamento se forma a partir da linguagem. Infere também que não é possível conhecer uma verdade absoluta, como proposto por Descartes (Larrubia,