linguagem
José Lemos Monteiro (UFC) 1. Introdução
A obra João de Barros, publicada na primeira metade do século XVI, ao lado da Gramática de Fernão de Oliveira, foi uma das primeiras a tentar uma descrição gramatical da língua portuguesa. Só este fato já seria suficiente para que fosse lembrada e relida, até para se perceber em que aspectos se processou, desde aquela época aos dias de hoje, alguma evolução em termos doutrinários e expositivos. E, nesse sentido, não é ousado dizer que, se contém passagens ingênuas ou inconsistentes, muito do que apresenta surpreende pela coerência e fundamentação teórica, por vezes indicando que alguns problemas lingüísticos atuais poderiam ter soluções bastante simplificadas.
Pretendemos, pois, esboçar uma análise das principais idéias lingüísticas de João de Barros, tomando por base a leitura de sua Gramática. Consideramos como essenciais alguns elementos de sua proposta alfabética e de sua teoria das partes do discurso e, por isso, neles nos deteremos, com a ressalva de que muitos outros aspectos merecem a atenção dos estudiosos.[1] 2. A Gramática de João de Barros A Grammatica da lingua portuguesa foi editada pela primeira vez por Luís Rodrigues, juntamente com o Dialogo em louvor de nossa linguágem, no ano de 1540. Existe um exemplar dessa edição na Biblioteca da Ajuda em Lisboa, outro na Biblioteca Municipal de Évora e um terceiro na Biblioteca Municipal de Rouen. A segunda edição só veio aparecer em 1785, por iniciativa dos monges cartuxos, num volume intitulado Compilaçam de varias obras do insigne portuguez Joam de Barros em que se encontram, além da Gramática, a Cartinha, publicada pela primeira vez em 1539, o Dialogo em louvor de nossa linguágem e o Dialogo da uiçiosa Vergonha. Já na segunda metade do século atual, em 1957, José Pedro Machado publicou a terceira edição e, em 1971, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa lançou uma quarta edição, que