Linguagem como figuração e como instrumento
Memória, representação e identidade
Eu, Senhor, cogito este problema, trabalho em mim mesmo. (...) Agora já não escalo as regiões do firmamento; não meço a distância dos astros; não procuro as leis do equilíbrio da Terra; sou eu que me lembro, eu, o meu espírito. Não é de admirar que esteja longe de mim tudo o que não sou eu. Todavia, que há mais perto de mim do que eu mesmo? Oh! Nem sequer chego a compreender a força da minha memória, sem a qual não poderia pronunciar o meu próprio nome! (Santo Agostinho, 1973, p.207)
O que é a memória?
“Que amo eu quando amo o meu Deus?” pergunta-se Santo Agostinho em Confissões para, em seguida, se dedicar a descrever a natureza do homem e a memória. Parte da idéias de que o homem é duplo: por ser um homem “servem-me um corpo e uma alma; o primeiro é exterior, a outra interior. Destas duas substâncias, a qual eu deveria perguntar quem é o meu Deus, que já tinha procurado com o corpo, desde a terra ao céu, até onde pude enviar, como mensageiros, os raios dos meus olhos?” (Santo Agostinho, 1973, p. 199) Responde que não é pela vida que enche o corpo que poderá encontrar o seu Deus, mas pela alma, por esta “outra força que não só vivifica, mas também sensibiliza a carne que o Senhor (...) criou" (Santo Agostinho, 1973, p.200). Não é a alma, porém a memória que ele passa então a discutir, sugerindo a identidade entre alma e memória.
Grande é a potência da memória, ó meu Deus! Tem não sei quê de horrendo, uma multiplicidade profunda e infinita. Mas isto é o espírito, sou eu mesmo. E que sou eu, ó meu Deus? Qual é a minha natureza? Uma vida variada de inumeráveis formas com amplidão imensa. Eis-me nos campos da minha memória, nos seus antros e cavernas sem número, repletas, ao infinito, de toda a espécie de coisas que lá estão gravadas, ou por imagens como os corpos, ou por si