Lingua materna
Texto 29
LINGÜÍSTICA E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Rodolfo Ilari (Unicamp)
Introdução
Datadas de 1957, as primeiras reflexões de um lingüista brasileiro sobre o ensino da língua estão contidas num ensaio de Joaquim Mattoso Câmara Jr. cujo título é todo um programa "Erros de Escolares como Sintomas de Tendências do Português no Rio de Janeiro". Nele se afirmava, com toda a clareza possível, que muitos erros encontrados pelos professores de ensino fundamental e médio na fala e na escrita de seus alunos, nada mais eram do que inovações pelas quais estava passando a língua portuguesa falada na época; o texto de Mattoso Câmara sugeria também que era equivocado tomá-los como sintoma de outra coisa - por exemplo de alguma incapacidade fundamental dos próprios alunos - e recomendava que, ao lidar com suas classes de crianças e adolescentes, nossos mestres do ensino fundamental e médio tomassem a situação lingüística então vigente no Brasil como pano de fundo do ensino de língua materna.
No contexto dos anos 1950, a mensagem de Mattoso Câmara era altamente inovadora. Ela se baseava nos pressupostos de uma ciência recém-introduzida no Brasil - a Lingüística - e interpretava de maneira totalmente nova uma situação pedagógica que se tornava cada vez mais freqüente por causa da chamada "democratização do ensino", que ia promovendo o ingresso maciço de crianças e adolescentes das classes populares numa escola até então fortemente elitizada. Os dois processos aqui aludidos - a presença cada vez mais numerosa de alunos provenientes da classe popular no ensino fundamental e médio e a difusão nesse mesmo ensino de idéias originadas na lingüística - continuam até nossos dias. Nas próximas páginas, falaremos do segundo, tentando explicar como a ciência lingüística se mostrou relevante para o ensino de língua materna.
Nos cerca de cinqüenta anos que nos separam do texto de Mattoso Câmara, a Lingüística brasileira foi