Libras
Elizabeth Ferreira Linhares
Introdução
O presente artigo tem por objetivo analisar os significados da infância e da escolarização para um grupo de ex-colonos da cafeicultura fluminense atualmente assentados em Santo Inácio, região serrana do Rio de Janeiro, considerando o processo de mudança social por que passaram em sua trajetória recente. Entre os diversos fatores participantes desse processo, destacam-se o atual acesso à escolarização continuada por parte das novas gerações, a ampliação das redes de sociabilidade do grupo e as mudanças operadas na sua organização intradoméstica, sobretudo no que diz respeito às relações intergeracionais. Trata-se de considerar, de um lado, as novas e diferentes condições enfrentadas pelas crianças e o modo como essas condições podem se relacionar ou produzir alterações significativas no processo de socialização, no ciclo de desenvolvimento e, portanto, nas concepções de infância encontradas junto ao grupo; e, de outro lado, como essas mudanças são percebidas pelos adultos e o que representam para as condições vividas por eles no assentamento, ou seja, a partir da reforma agrária. O assentamento Santo Inácio foi criado em 1987, com a desapropriação de parte de uma antiga fazenda do município de Trajano de Moraes, após um longo e intenso período de conflitos entre os trabalhadores e o fazendeiro – processo que envolveu diferentes níveis de enfrentamento e
* Este artigo apresenta uma síntese parcial da minha tese de doutorado Entre escravos e anjos: condições e significados da infância em um assentamento rural fluminense, defendida em agosto de 2004 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ. A análise baseou-se em um conjunto diferenciado de dados quantitativos e qualitativos, obtidos em pesquisa específica para a tese, e em uma ampla base de dados levantados em pesquisa anterior realizada nesse mesmo assentamento, da qual participei como
Escravos na roça,