O problema do livre-arbítrio tem início porque se considera que as explicações dos fenômenos naturais devam ser completamente deterministas. Um exemplo disso seria a explicação do terremoto de Loma Prieta, não menciona apenas as razões pelas quais esse terremoto ocorreu, mas apresenta as razões pelas quais esse fenômeno deveria necessariamente acontecer. Levando em consideração as forças que agiam nas placas tectônicas, não poderia acontecer de outra maneira. Por um lado, fazemos a experiência da liberdade, por outro, temos a dificuldade em renunciar à ideia de que todo acontecimento tem uma causa. As ações humanas são acontecimentos, portanto devem, como os terremotos ou tempestades, remeter às explicações causais suficientes. Isso entra em choque quando se tenta explicar os comportamentos humanos: parece que, de maneira característica, o fato de agir “livremente” ou“voluntariamente” constitui para os seres humanos uma experiência que torna impossível recorrer às explicações deterministas. Se eu estiver em pé em um parque olhando uma árvore, há algo nessa experiência que não depende de mim, mas da maneira como o mundo é e de como é meu mecanismo perceptivo. Em compensação, se eu resolvo me afastar, levantar o braço ou coçar a cabeça, encontro no cerne dessas ações uma dimensão de liberdade, de vontade de que não estava presente nas minhas percepções. Considerando a consciência “como uma característica superior ou sistêmica do cérebro, causada por elementos inferiores, como os neurônios e sinapses”, Searle levanta duas hipóteses: 1. o estado do cérebro é causalmente suficiente, 2. ele não o é. A hipótese 1 é coerente com nossos conhecimentos em biologia, mas é pouco sedutora por ser epifenomenal. A hipótese 2 é mais complexa, transformando o problema do livre-arbítrio em três problemas: livre-arbítrio, consciência e eu. O cerne da análise é a questão de como conciliar a concepção que temos de nós mesmos – de homens conscientes, livres sociais e políticos – com o