LIBERALISMO
(matriz inglesa e matriz francesa)
Em sentido lato, Liberalismo1 é sinónimo de liberdade e de generosidade, de tolerância, implica o verdadeiro individualismo que se abre à colaboração voluntária com os outros, ao fortalecimento da sociedade civil. Erradamente, reduz-se frequentemente o liberalismo a uma ideia também ela errada de liberalismo económico
– a doutrina segundo a qual o Estado não deve intervir na economia.
É verdade que no século XIX o Liberalismo tinha aspetos comuns às duas tradições, nomeadamente a liberdade de pensamento e de expressão que serviram de plataforma contra os pontos de vista autoritários. Assim, mesmo aceitando à partida que a maioria dos aderentes ao Liberalismo professaria também uma crença na liberdade de ação individual e na igualdade de todos os homens, uma análise mais apertada mostra que esse entendimento era em parte somente verbal – os termos liberdade e igualdade eram usados com significados algo diferentes.
Sabe-se que toda a tradição britânica é, passe a redundância, consuetudinária, como a própria Constituição (não escrita). E este princípio molda todo o enquadramento, presente nos valores a atribuir à esquerda e à direita de matriz inglesa.
A Inglaterra tem um provérbio que traduzido à letra diz “se não está partido, não consertes”2, ou seja, a tradição inglesa conserva o que está bem e só muda o que é necessário. A sua orientação é evolucionista, contrariamente à tradição continental, revolucionária, que destrói porque acredita ser condição essencial para ser bem sucedida. Sabe-se que os princípios básicos a partir dos quais os velhos whigs moldaram o seu liberalismo têm origem na Antiguidade Clássica e em certas tradições medievais que em Inglaterra não foram extintas pelo absolutismo. De facto, o conceito de liberdade individual aparece expressa entre os atenienses dos séculos V e IV a. C., na ideia de isonomia ou igualdade perante a lei3 (Bobbio, 1988).
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