Leitura
O Auto da Índia (1509), de Gil Vicente, é um texto teatral, aonde é abordado um tema actual. O adultério.
Por trás da glória e da fachada da expansão ultramarina, era já possível perceber as profundas alterações, nem todas positivas, que essa expansão estava provocando na sociedade portuguesa.
Espaço: Toda a ação decorre num único espaço - a casa da Ama. Os elementos textuais, no entanto, permitem subdividi-lo em três: a câmara da Ama, onde decorre a maior parte da acção, a cozinha e o quintal.
Para compensar essa limitação, atribuiu à personagem da Moça, além de outras, a função de mensageira: é ela que vai ao exterior e de lá traz as notícias que modificam o desenrolar da ação.
Naturalmente, o espaço aludido é bem mais vasto: estende-se à cidade, ao mar, à Índia, para onde o Marido se ausenta e de onde regressa no final da representação.
Tempo: O tratamento do tempo, no Auto da Índia, constituía para Gil Vicente um problema difícil. O fato da ação decorrer de forma contínua num mesmo espaço sugere que os acontecimentos se sucedem ao longo de um período de cerca de vinte e quatro horas. No entanto, o tempo representado corresponde, não a um dia, mas a três anos. A confirmação vem-nos pela boca da Ama:
“Leixou-lhe pera tres annos
Trigo, azeite, mel e panos. “
Personagens:
Ama - É a personagem principal, a única que permanece em cena do início ao fim da representação. Desse modo é fácil ao público perceber que o objetivo fundamental do autor é criticar o comportamento imoral das esposas na ausência dos maridos.
Moça - Como personagem-tipo, representa os dependentes domésticos, obrigados a submeter-se aos caprichos e maus tratos dos patrões, que reagem a essa situação ironicamente, observando e criticando os comportamentos incorrectos dos seus senhores. A sua presença permite à Ama revelar o seu verdadeiro carátcter. Castelhano - É uma personagem de origem social humilde, provavelmente um vendedor ambulante.