LBV e o assistencialismo religioso

Texto 4:

O campo religioso

epígrafe

No ocidente, por muito tempo, praticamente durante todo o período medieval, a religião teve o poder de interferir em todos os domínios sociais. Sua voz podia e devia ser ouvida nos recantos da política, da economia, do direito, da arte e outros. Ela ordenava a sociedade à sua maneira, tratava o social como uma extensão do Cosmos. Como sabemos, na modernidade tudo isso mudou. O “cosmo” agora é bem outro.

Deus no plural: as várias falas sobre o mundo

Peter Berger (1985) apresenta-nos, para o estudo do campo religioso, um modelo de análise que tem na economia liberal o seu próprio modelo. Retira, portanto, do campo econômico a maior parte de suas metáforas. Mercado, produto, competição, livre-escolha, monopólio, etc. Mas o substrato do modelo vai além dessa forma metafórica. Pluralidade, por exemplo, é uma noção que está ligada ao "processo de secularização" da sociedade, o qual ela mesma ajuda a desenvolver – pluralidade como produto e produtora da "secularização". Nesse processo mais amplo, que remonta aos primórdios da era moderna, a pluralidade religiosa atual pode ser melhor compreendida. Trata-se, segundo Berger, de uma transformação pela qual vários setores da sociedade vão se liberando da religião, dos símbolos e crenças religiosas, o que constitui a dimensão objetiva da secularização. Na dimensão subjetiva do processo, os próprios indivíduos são atingidos e cada vez menos pensam o mundo com os conteúdos sagrados1. Para a religião a "secularização" foi talvez o pior dos males, porque fez que tais conteúdos de explicação do mundo perdessem sua "plausibilidade". Outros discursos tomaram o espaço que antes estava reservado ao “discurso de Deus”. As religiões, porém, permanecem de pé sobretudo porque esses "outros discursos" ainda não foram capazes de explicar, completamente, os sofrimentos e os dilemas de cada um. O homem moderno, vivendo nas teias da secularização, vê-se ainda diante de um problema profundo,