Kaspar hauser + sociologia

O que aconteceria se fosse permitido que uma criança se desenvolvesse isoladamente, intocada por idioma e as forças da civilização, com apenas seus instintos para lhe darem forma?

Cientistas, filósofos e clérigos têm pensado sobre a assim chamada "Experiência Proibida" por séculos. Mas, mesmo apesar deste último ter testado a saúde moral das mulheres, afogando-as, e os primeiros terem vivis seccionado prisioneiros, a ideia de submeter uma criança ao deserto de sua própria natureza selvagem permaneceu um tabu que nem mesmo os cirurgiões vitorianos e inquisidores católicos ousaram quebrar.

Assim, quando em 1828 um adolescente, lutando para andar e incapaz de pronunciar mais do que alguns fragmentos sem sentido de linguagem, apareceu nas ruas de Nuremberg com apenas uma letra incompreensível para explicar a sua proveniência, não é surpresa que sua descoberta tenha se tornado uma sensação.

Ao longo dos anos a história de Kaspar Hauser tornou-se uma lenda, inspirando contadores de histórias dos mais diversos como Hans Christian Anderson e Melville Hermann a atualizar as especulações sobre a substância inalterada da natureza humana.

Em 1974, Werner Herzog entrou para a história das adaptações culturais, com seu multi-premiado filme Jeder für sich und Gott gegen alle ("Cada um por si e Deus contra todos"), que tendo o título adaptado para o português, se tornou, O Enigma de Kaspar Hauser.

O que poderia ser mais radical do que a ideia de uma essência humana?

Como o título sugere, não há sentido conclusivo da história de Kaspar. Deficiente na linguagem, tendo pouco, se algum, o sentido da distinção entre subjetividade e objetividade, possuindo em suma nenhuma faculdade de inteligência, no que quer que sua vida possa ter consistido antes de ser trazido para o mundo é ininteligível para nós. Ele não "experimentou" a sua vida, em qualquer sentido que poderíamos conceber, exceto em abstrato, a partir de nossas próprias “existências” pré-natais. No filme isso