Kant, Hegel, Anaxágoras e a Racionalidade na História

Kant, Hegel, Anaxágoras e a Racionalidade na História

Em seu ensaio “Ideia de uma História universal com um propósito Cosmopolita”, Kant apresenta duas proposições de grande destaque na sua filosofia: as ações humanas são determinadas por leis naturais causais e a Natureza tem uma doutrina teleológica. É possível perceber uma relação entre esses dois axiomas, que será explicitada posteriormente, além de uma outra relação com a “descoberta” de Anaxágoras de que causa mais importante é o νους (inteligência) – descoberta essa para qual Hegel atribui importância decisiva no desenvolvimento do Espírito Absoluto. Todos esses tópicos e ligações serão desenvolvidos a seguir.
Primeiramente, é preciso entender o que leva Kant a afirmar que as ações humanas, consideradas manifestações da liberdade da vontade, sejam determinadas por leis naturais. O filósofo considera as ações humanas eventos naturais, e, como tais, são determinadas de acordo com as leis gerais da natureza. Para embasar seu raciocínio, apresenta uma série de proposições que ajudam a elucidar seu pensamento e que se baseiam na existência de um princípio teleológico na Natureza. A esclarecer: a Natureza atua visando uma finalidade e essa finalidade se manifesta tanto no funcionamento dos órgãos quanto no desenvolvimento de disposições naturais com fins específicos. No homem, essas disposições visam o uso da razão, tendo em vista que ele é a única criatura racional sobre a terra.
A partir desse ponto, o papel teleológico da Natureza se manifesta de forma crescente: as disposições dos animais se realizam integralmente em cada indivíduo, ao contrário do que acontece com os seres humanos. Aqueles agem de forma instintiva e devem apenas nascer, crescer, reproduzir e morrer – a espécie humana, por sua vez, tem um enorme contingente de disposições a serem realizadas, que não podem ser realizadas rapidamente devido ao “prazo” de vida do homem e ao fato de que a razão não atua de modo instintivo, mas precisa de