Juro Sentimento De Culpa Dos Banqueiros
(Artigo publicado no The Economist, e traduzido pela Gazeta Mercantil,1994)
No leito de morte, um agiota fez sua esposa e filhos jurarem dividir suas riquezas em três partes: uma para ela, para que pudesse casar novamente, uma para os filhos e outra para ser enterrada com ele em uma bolsa colocada à volta de seu pescoço. Seu pedido foi realizado, mas a família quis depois desenterrar o dinheiro enterrado com o agiota e, certa noite, abriu seu túmulo. Fugiram aterrorizados ao verem demônios enchendo a boca do cadáver com moedas encandescentes.
Os que vivem de emprestar dinheiro não são vistos hoje de forma tão terrível, mas muitos banqueiros reconheceriam o tom admonitório deste conto do século XIII escrito por Jacques de Vitry, pregador francês. Algumas vezes odiado, sempre abordados com cuidado, os banqueiros têm uma imagem problemática. Poucas pessoas ainda aceitam a idéia, comum no tempo de Vitry , de que os “emprestadores” vão para o inferno por que fazem o trabalho do diabo. Mas em muitas culturas ainda existe a suspeita de que os banqueiros fazem algo que é inerentemente anti-social: cobrar juros.
A usura – que antigamente não significava nada mais do que emprestar dinheiro em troca de juros – sempre atraiu a atenção de legisladores e teólogos. Três das maiores religiões de mundo têm proibições formais contra ela, mesmo que essas proibições nem sempre tenham sido estritamente obedecidas. Os argumentos contra os juros podem ser reduzidos basicamente a dois: o de que , na prática, os emprestadores de dinheiro estão conseguindo alguma coisa em troca de nada; e o de que um homem deveria ajudar o próximo sem esperar retribuição. Era tanto o desprezo pela usura no fim da Idade Média que a atividade bancária moderna poderia ter sido estrangulada ao nascer.
Erosão do capital
Nas sociedades ocidentais, o ato de cobrar juros passou a ser considerado algo respeitável. A inflação representa hoje uma erosão do capital que