Resenha do artigo "Juros: o sentimento de culpa dos banqueiros"
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A cobrança de juros é um sintoma social decorrente do capitalismo, que guarda em si uma ambivalência comprovadamente presente em toda história da humanidade. É isso o que o artigo "Juro, o sentimento de culpa dos banqueiros", publicado no The Economist, e traduzido pela Gazeta Mercantil (1994), mostrará a partir de fatos históricos, religiosos e ideológicos. A figura do agiota, usurário, emprestador ou bancário (concepções diferenciadas apenas pelo contexto político, social e histórico no qual se inserem) sempre sofreu duras críticas que descredibilizavam a sua função social. Entre elas, destaca-se a especial preocupação que as grandes religiões tinham para coibir a usura. A era medieval foi determinante para a completa hostilização dessa prática, sendo o cristianismo o principal propagador dessa ideia herética acerca do empréstimo com juros. Os judeus também se valiam da sua crença religiosa para condenar a usura, na medida em que ela se disseminava. Por fim, a religião islâmica preocupou-se em regulamentar o empréstimo, instituindo um princípio de que o risco do empreendimento deveria compensar tanto o emprestador quanto o tomador. Conquanto a Europa estigmatizasse "de cima" a prática usurária, ela adquiriu um caráter essencial e inevitável no meio social. Ela diametralmente se afastava da ética católica, essa imposta no contexto medieval, mesmo que os governantes da época se envolvessem com os emprestadores. Logo, não havia alternativa senão criar mecanismos e justificativas para a inserção legal e regular do empréstimo. O advento da era moderna, com a criação de bancos centrais, herdou alguns preconceitos desse histórico hostil contra a usura, o que atacava diretamente os bancários. As crises econômicas enfrentadas reforçaram, segundo o autor, a má impressão dessas instituições. Ainda assim, foram feitas críticas racionais aos bancos e ao tratamento diferenciado que seus negócios recebiam; à possibilidade de