Judeus no brasil
Paulo Mendes Pinto
1. Apresentação: mais que «cripto-judeus», uma «cripto-história»
Que os judeus portugueses estão presentes em vários sectores da História de Portugal, é uma verdade nada difícil de demonstrar. Através de aspectos bastante positivos para a vida económica, científica, jurídica e cultural do país, não nos criaria qualquer obstáculo apontar um largo e bastante significativo grupo de situações e de indivíduos pertinentes para robustecer esta afirmação.
Os sefarditas são ainda uma temática incontornável na cultura popular, nos ditados que nos revelam um asco xenófobo enraizado em séculos de perseguições e de criação de figuras apriorísticas, muitas delas cimentadas em teologias que apontavam a este grupo a culpa pela morte de Jesus, o Cristo dos opressores.
Por uma via aparentemente mais escusa, mas nada negligenciável, a população judaica sempre esteve (e em certa medida estará) presente no nosso imaginário através de um grupo de mitos e de feridas mal curadas. Por um lado, quase sem se saber, são eles que em muito vão enformar o sebastianismo1, que é pedra angular na construção da identidade nacional nos últimos séculos; por outro lado, a ferida aberta por uma Inquisição que deixou as suas marcas profundas no imaginário colectivo devido aos brutais meios usados e às mortes perpetradas, não sarou e continua a manter a sua mácula no todo nacional, levando as altas figuras do Estado a formular solenes pedidos de desculpa.
Perante este quadro, os judeus portugueses são, de facto, incontornáveis, mas significativamente incómodos na gestão da memória nacional.
Com este texto pretende-se percorrer alguns dos aspectos mais importantes da forma como a sociedade letrada portuguesa foi integrando, ou afastando, burilando e compondo, uma das suas parcelas de memória mais ricas.
Obviamente, não esqueceremos as dificuldades de investigação nesta área, o que