Jose de alencar
Romance urbano que tematiza as contradições entre o sentimento e a necessidade de 'subir na vida', um dos famosos 'perfis de mulher' de José de Alencar.
1. NARRADOR
Narrado em terceira pessoa, por um narrador-observador, o romance Senhora tem na observação de detalhes exteriores, que iluminam a personalidade e os lances da vida, uma de suas fortes características.
Com esse recurso, podemos perceber a preocupação com a psicologia dos personagens e também a mistura do romanesco e da realidade, que fazem desta obra um exemplo de literatura romântica na qual se procura imprimir certos traços realistas.
Estes traços, assim como o estilo mais denso de alguns romances urbanos de JA, especialmente Lucíola e Senhora, revelam a influência de Balzac, o mestre do realismo francês. O conflito psicológico em Senhora coloca uma questão central para o romance realista, contextualizado no mundo capitalista e burguês: a questão do dinheiro, da necessidade de 'subir na vida', em oposição ao ideal da realização amorosa.
Vamos iniciar a nossa análise observando como se coloca o narrador perante a história e tentando compreender o seu ponto de vista diante dos personagens que a vivem.
Observe que Aurélia Camargo, a protagonista do romance, é idealizada como uma rainha, como uma heroína romântica, pelo narrador. De régia fronte, coroada do diadema de cabelos castanhos, de formosas espáduas, esta personagem no entanto é ao mesmo tempo fada encantada e ninfa das chamas, lasciva salamandra.
Ao estereótipo da 'mulher-anjo' romântica o narrador acrescenta, assim, um elemento demoníaco, elemento que, em vez de explicitar, deixa sugerido, sob as pregas do roupão de cambrais que a luz do sol não ilumina, e também sob a voz bramida, o gesto sublime, escondendo um frêmito que lembrava o silvo da serpente, ou quando o braço mimoso e torneado faz um movimento hirto para vibrar o supremo desprezo...
A contradição entre o anjo e o demônio, a bela e a fera,