Jornalista
Sem ‘lição de casa’ não há bom jornalismo
Ricardo A. Setti (*)
Nas redações por onde passou, Elio Gaspari tornou clássico um caso que costuma contar sobre um repórter no Rio do início dos anos 1970 que, ao entrevistar o na época presidente da Petrobras, começou por perguntar ao general Ernesto Geisel quantos barris diários de petróleo a empresa produzia. O futuro general-presidente, com sua legendária franqueza rude, encerrou a entrevista ali mesmo, despachando o repórter.
"Se o camarada vem até aqui para me fazer perguntas e nem sequer se informou sobre a produção da empresa, como pode me entrevistar?" – resmungou depois. O general não entendia e não gostava de imprensa nem de jornalistas, mas tinha razão. Ele tocou, ali, numa questão essencial, básica, da profissão, que no entanto em nossas discussões sobre o jornalismo no Brasil tem permanecido, como tantos outros pontos "operacionais", em segundo plano diante da magnitude da crise que a mídia atravessa – crise financeira, técnica, ética, política e trabalhista.
Falamos, é claro, da velha e boa "lição de casa" que todo jornalista deve fazer antes de uma reportagem. Requisito óbvio e indispensável desde os primórdios da profissão e que, no entanto, continua sendo com freqüência deixado de lado no dia-a-dia das redações de jornais, revistas, portais de internet e emissoras de rádio e TV.
Como se sabe, existem para nós, jornalistas, duas vertentes desse conceito: a lição de casa em sentido lato, amplo, que é preparar-se adequadamente antes de escrever ou, em rádio e TV, de produzir a matéria – ou seja, ter lido o suficiente, consultado arquivos e livros, ter entrevistado quem precisava ser ouvido; e a lição de casa em sentido estrito, ou seja, a fase preliminar a tudo, aquela de preparar-se minimamente antes de começar a apuração, principalmente se informando o suficiente sobre o assunto para realizar boas entrevistas. Um evento recente trouxe o tema à baila, nas duas vertentes.
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