Joris Ivens
Clara Zamith
Em "Introdução ao Documentário", Bill Nichols define o documentário poético como uma reunião de fragmentos do mundo histórico de modo poético, "falta de especialidade, abstrato demais". O que pode pressupor que as realizações dos anos 20 tratassem apenas de experimentações visuais, a obra Joris Ivens, com toda sua bagagem fotográfica ao longo das gerações de sua família, traz em seus primeiros filmes um contexto filosófico sobre o homem e a natureza — lutando ou sobrevivendo a ela. Nascido numa Holanda desprovida de indústria cinematográfica e tendo a grande parte de seu trabalho filmado fora do país, seus filmes puderam transmitir seu foco humanista, com distanciamento da nacionalidade. Não por acaso, seus dois filmes a serem analisados neste trabalho não especificam o local das cenas filmadas; os filmes de Joris Ivens são para o mundo. "A Ponte" (De Brug, 1928) e "A Chuva" (Regen, 1929) se assemelham na forma como uma série de fragmentos, pontos de vista abstratos e dias de captação foram montados para que cada um se tornasse peças fílmicas únicas, como se a chuva de Amsterdã se tratasse de uma única tarde de verão, e a ponte de Rotterdam, um tour intensivo sobre todos os ângulos da ponte ferroviária. Em "Senses of Cinema: Joris Ivens", Ian Mundell pontua que foi justamente pelo processo repetitivo e/ou mecânico dos dois eventos cotidianos que Ivens determinou seus temas, dando-lhe tempo e estudo do olhar, o que resultou numa riquíssima série de recortes de olhares de alta qualidade estética — e aqui podemos comparar à metodologia de convívio como Flaherty e Grierson aplicavam na pré-produção de seus documentários. O valor estético de sua fotografia certamente é reflexo da herença cultural de uma família de fotógrafos. E foram esses conhecimentos técnicos e tecnológicos de Ivens que o aproximou dos filmes de vanguarda que adorava e, mais tarde, o colocou frente a frente a seus ídolos do cinema alemão