Jorge Amado Cacau 1
Cacau inaugura também um dos veios mais ricos da literatura de
Jorge Amado, o dos livros dedicados à rica e sangrenta história da região cacaueira da Bahia, imortalizada em obras como Terras do sem-fim; São Jorge dos Ilhéus; Gabriela, cravo e canela e Tocaia
Grande.
Neste apaixonado livro de juventude, com um vigor e uma urgência que o tornam encantador, encontramos alguns dos méritos mais louvados do autor, como o apurado ouvido para a fala popular; o trânsito pelos vários registros do discurso, do mais formal ao mais coloquial; o caloroso afeto por suas criaturas.
Livro de denúncia e esperança, anuncia o grande romancista que conquistaria os leitores do Brasil e do mundo nas décadas seguintes.
Nota do Autor
Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia.
Será um romance proletário?
J. A.
Rio, 1933
FAZENDA FRATERNIDADE
As nuvens encheram o céu até que começou a cair uma chuva grossa.
Nem uma nesga de azul. O vento sacudia as árvores e os homens seminus tremiam. Pingos de água rolavam das folhas e escorriam pelos homens, Só os burros pareciam não sentir a chuva. Mastigavam o capim que crescia em frente ao armazém. Apesar do temporal os homens continuavam o trabalho. Colodino perguntou:
— Quantas arrobas você já desceu?
— Vinte mil.
Antônio Barriguinha, o tropeiro, pegou do último saco:
— Esse ano o home colhe oitenta mil...
— Cacau como diabo!
— Dinheiro pra burro...
Desamarraram os burros e Barriguinha tangeu-os:
— Vambora, tropa desgraçada...
Os animais começaram a