Islã
O outro lado da Guerra Santa
Para o Ocidente, as cruzadas representam um capítulo importantíssimo da História da humanidade. Basta ver a grande quantidade de relatos sobre o assunto, produzidos por cronistas da época, e de estudos e tratados desenvolvidos posteriormente por historiadores modernos. Isso sem mencionar a constante representação nas artes da saga da tentativa de conquistar a Terra Santa - são incontáveis pinturas, esculturas e obras desenvolvidas pela literatura, teatro, música e cinema.
No Oriente, porém, nunca houve um interesse dessa magnitude. Mesmo hoje em dia, são pouquíssimos os acadêmicos muçulmanos que encaram as cruzadas como um grande fenômeno. As visões do outro lado desse prolongado conflito permanecem pouco conhecidas e, além de tudo, devem ser investigadas em fontes esparsas e, muitas vezes, obscuras, como relatos de feitos de comandantes de guerra ou registros de dinastias insignificantes.
A aparente falta de compreensão sobre o período pode parecer absurda. Mas, analisada do ponto de vista islâmico, faz muito sentido - na confusa e sempre mutante colcha de retalhos e pequenos estados e alianças cambiantes na região, os cruzados foram apenas mais uma leva de invasores.
A Primeira Cruzada encontrou um mundo muçulmano desunido e despreparado, que nunca havia sido atacado dessa forma inesperada. A queda de Jerusalém em 1099 e a subseqüente formação de quatro reinos cruzados (Jerusalém, Edessa, Antioquia e Trípoli) foram consumadas com pouca resistência. Gradualmente, todavia, sob a liderança firme de guerreiros (...), a Síria, Palestina e Egito foram reunificados.
O horror e o choque do episódio conhecido no Ocidente como a Primeira Cruzada estão descritos em documentos muçulmanos com pesar e um sentimento comum de que ela fora motivada pela desunião e apatia do povo e pelo desgosto divino com sua medíocre observância da fé. Mas tais registros mostram pouca curiosidade com