Interpretação e articuladores
Nas carteiras da escola, ensinaram-me, segundo o sábio Claude Bernard, que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição; pois, onde ela existe, há vida; onde se interrompe, há morte.
Mas não me disseram que, entre os animais humanos, o lado que pende para a morte, por falta de nutrição, é mais numeroso que o lado erguido para a vida.
Ensinaram-me que os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes da própria substância humana; o homem é o alimento que ele come.
Mas não me disseram que existem homens aos quais faltam os elementos que constituem o homem. Homens incompletos, homens mutilados em sua substância, homens deduzidos de certas propriedades humanas fundamentais; homens vivendo o processo de morte.
Ensinaram-me, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre a terra se extinguiria.
Mas não me disseram que, depressa, por toda parte, a vida se extingue, no duro modo indicativo.
Ensinaram-me que o oxigênio é o primeiro elemento indispensável.
Mas não me disseram que só o oxigênio é um bem comum de toda humanidade, salvo em minas e galerias, onde é escasso.
Ensinaram-me que o carbono, o hidrogênio, o azoto, o fósforo e ouros minerais são decisivos à vitalidade da célula.
Mas não me disseram (por óbvio, mas eu era um estudante tão distraído) que aqueles elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrem na terra, acaso digerido por uma criança, seu poder de assimilação é nenhum.
Ensinaram-me que há alimentos orgânicos ternários e quaternários.
Mas não me disseram que dois terços de nossos irmãos no mundo passam fome. [...]
Referência: Paulo Mendes Campos. O anjo bêbado. Rio de janeiro, Sabiá, 1969. Após a leitura, responda às questões propostas abaixo sobre o texto.
1. No texto, o autor vai fazendo paralelos entre o que lhe ensinaram e o que não lhe disseram na escola.
a. Releia todos o parágrafos que contam o que a escola