Infância, mulher e família: contornando tempos
Thiago Luis da Silva Psicólogo Clínico
Nos estudos das instituições, especialmente daquelas como a creche, não se pode negar a ideologia que está associada à concepção de infância e de família. Procurando compreender essas concepções ideológicas, remetemo-nos às contribuições da obra de Ariès (1986). Segundo ele, historicamente, a infância é uma designação para uma fase da vida, atribuída nas sociedades industriais, e, portanto, inexistente na Idade Média. Ariès (1986, p. 50) salienta que “até por volta do século 12, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la [...] é provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo.” Nos estudos, em testamentos, igrejas, túmulos, velhos diários e pinturas, tudo evidencia a lenta transformação do ideário e do lugar social sofrida pela infância e pela família. O sentimento infantil surgiu na sensibilidade e, posteriormente, no ideário ocidental, foi introduzido na iconografia medieval, entre os séculos XIII e XVIII, por meio de temas metafísicos e religiosos. Entretanto, ainda no século XIII não se verificava o ideário da criança caracterizado por uma expressão particular, mas sim com homens de tamanho reduzido (ARIÈS, 1986). Tal ideologia foi mantida até o advento das sociedades industriais, onde o desenvolvimento do capitalismo e das ciências possibilitou uma nova representação da infância, agora como uma fase importante do desenvolvimento humano. No entanto, essa nova imagem ainda apresentou paradoxos, visto que visava contribuir ou manter o consumo, já que a infância possibilitava (e possibilita) maior lucro. Dessa maneira, Ariès mostra que a família, tal qual a conhecemos atualmente, começou a se desenvolver a partir dos séculos XV e XVI. Antes disso, não se pode pensar, contudo, que a ela em si não existia. A visão que se tinha dela era de algo privado, reservado à intimidade. Essa preservação, deixando de lado a vida social, foi uma