Indústrias criativas e o nosso futuro
Edu Adan Irm
Está em questionamento a sustentabilidade do modelo de sociedade que emergiu e se consolidou após a 2.ª Revolução Industrial, baseado na produção e no consumo de bens intensivos em recursos naturais e energia por uma parcela numerosa, mas restrita, da população mundial. As transformações na sociedade global nos últimos 20 anos - mudanças nas economias ditas socialistas, incorporação da China à economia de mercado, ampliação e consolidação da União Européia, crescimento da Índia e recuperação econômica da América Latina - adicionaram algumas centenas de milhões de consumidores ao mercado global, suficientes para evidenciar a insustentabilidade do modelo. Crescer é preciso, mas o crescimento não pode continuar dependendo da produção de automóvel, mesmo o mais econômico.
Na sociedade atual, a desejável ascensão dos mais pobres se traduz na reprodução dos padrões de consumo dos grupos de renda mais elevada e, nos marcos do atual modelo, essa parece ser a única trajetória possível para manter o crescimento e o dinamismo da economia mundial. Mais ainda, deve-se reconhecer que o modelo tem tido êxito ao incorporar milhões de pessoas que vêm deixando o meio rural atrasado e milhões de pobres urbanos marginalizados ao que muitos chamam de "cidadania". Mas todas as luzes de alerta e muitos sinais vermelhos já estão acesos e apontam para a crescente dificuldade em manter tal padrão: sem ser catastrofista, teme-se que o aquecimento global, a escassez relativa de matérias-primas e desastres ambientais como o da British Petroleum sejam só pontas de um iceberg que pode levar a pique o Titanic global num futuro não muito distante.
Nesse sentido, a conciliação entre a manutenção do necessário dinamismo econômico e da sustentabilidade da vida no planeta requer mudanças no padrão de produção e consumo para bens e serviços cada vez mais intensivos em conhecimento e menos absorvedores de recursos naturais. É preciso