Imunologia das Neoplasias
Câncer: uma visão geral
Cânceres são doenças genéticas, caracterizadas pelo acúmulo progressivo de mutações no genoma das células alteradas. As células alteradas apresentam vantagens quanto à proliferação e/ou resistência a mecanismos de indução de morte celular, o que culmina na manutenção da célula geneticamente alterada no tecido de origem. Ao longo do tempo, as células alteradas podem adquirir capacidade de invasão local, indução sustentada de alterações no microambiente tecidual, como por exemplo, formação de novos vasos (angiogênese), e finalmente a capacidade de metastatização, responsável pela morte de cerca de 2 a cada 3 pacientes com câncer.
Modelos genéticos e epidemiológicos sugerem que seriam necessárias de 4 a 7 mutações no genoma das células transformadas para a geração do câncer. Estas mutações ocorrem no contexto de células e tecidos que apresentam mecanismos homeostáticos finamente regulados. Apesar de ainda não completamente conhecidos, os mecanismos que garantem a integridade do genoma são variados e bastante eficientes em seres humanos. As mutações, causadas por agravos genotóxicos (como irradiações, por exemplo), são identificadas e reparadas por maquinarias moleculares que incluem diferentes famílias de genes. Central neste processo de reparo, encontra- se o produto do gene supressor de tumor TP53. Dentre as funções de p53, destacam- se aquelas associadas à parada das células ao longo do ciclo celular e indução da expressão de genes de reparo. Reparada a lesão, os níveis de p53 diminuíriam, num processo de retroalimentação negativa induzida por um gene transcrito por p53 (MDM- 2), e as células reparadas seriam mantidas na população celular normal.
Alternativamente, na dependência da intensidade do agravo, p53 poderia induzir a morte da célula geneticamente alterada (via indução do gene pró-apoptótico bax, porexemplo). Assim, mecanismos homeostáticos intracelulares garantiriam a integridade do genoma