Igreja do diabo
A intertextualidade observada é muito interessante, começando no capítulo II, quando Deus recebe a visita do satanás nos recantos celestes, Deus recolhe um homem chamado Fausto, fazendo aí uma intertextualidade com uma das obras mais famosas do romancista alemão Johannes Von Goethe, “Fausto” e sua concepção de homem para o germânico, que são as mesmas de Machado de Assis: “Falas assim porque só tens uma aflição, não procuras jamais desvendar as outras! No meu corpo há duas almas em competição, anseia cada qual da outra se apartar. Uma rude me arrasta aos prazeres da terra, e se apega a este mundo, anseios redobrados; outra ascende nos ares; nos espaços erra, aspira à vida eterna e a seus antepassados. Oh, se existem espíritos no alto firmamento, que entre a terra e o céu se agitam com freqüência que desçam dessa névoa áurea, num momento, e me levem a essa nova e brilhante existência!”. A personagem vendeu sua alma ao diabo em troca do saber supremo, mais um exemplo da facilidade de que o diabo tem em seduzir o homem.
No capítulo III, Machado cita o prosador renascentista francês François Rabelais e sua obra “Gargântua e Pantagruel”, uma ilustração para enumerar as qualidades do Diabo: “O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal”. A citação cumpre o objetivo do texto: mostrar a tendência dos homens, que ao terem acesso às regras essenciais da religião cristã, passam a respeitar estas e a não burlá-las mais. Assim acontece no conto, quando o Diabo começa a perder a sua força, visto que seus adeptos estavam praticando as ações cristãs e não mais praticando as ações recomendadas pelo mesmo.