a igreja do diabo
A Igreja do Diabo (Machado de Assis)
Este conto foi publicado no livro Histórias sem data. Espécie de fábula, novamente marcada pela ironia, o conto apresenta a história do dia em que o diabo resolveu fundar uma igreja, a fim de concorrer com as diversas religiões. Dizia-se cansado de ser desorganizado, de ficar com as circunstanciais sobras das diferentes manifestações de fé.
Fundando uma igreja, teria vantagem de ser única neste tipo de pregação, ao passo que para adorar deuses, havia várias: “enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha será única; (...)
Há muitos modos de afirmar: há um só de negar tudo”. O Diabo vai a Deus e comunica sua intenção. Imediatamente, desce à terra e começa sua pregação. Defende a inveja, a gula, a preguiça, tudo com justificativas da história, das letras e das artes. Rapidamente, obtém mais e mais adeptos, tornando-se a nova igreja hegemônica.
Propagou-se pelo globo, tornando-se conhecida em muitas línguas. Temos depois, todavia, estabelecida e difundida a Igreja, o Diabo percebeu baixas entre seus fiéis. Aqui e ali seus seguidores praticavam, às escondidas, atos de bondade, de restituições de roubo, de arrependimento. Pesquisando a fundo, verificou o Diabo que em todo o mundo já se espalhava tal atitude. Atônico, o diabo volta ao céu, para ouvir as explicações de Deus. Através de uma metáfora, Deus explica a situação: “é a eterna contradição humana”.
Em outras palavras:
Conta-se que um dia, sentindo-se inferiorizado, o Diabo resolveu fundar sua Igreja, “escritura contra escritura”, disse. Desafiando Deus, subiu aos céus para comunicá-lo. Em terra, espalhou a notícia de sua doutrina: aproveitamento de todos os prazeres mundanos. A fórmula era perfeita e não tardou acudissem à sua igreja milhares de pessoas, fiéis simplesmente fazendo o queriam fazer, o que sabiam fazer e o que, a bem da verdade, vinham fazendo há muito.
Com o passar do tempo, porém, notou o Diabo que,