IFIGENIA
O Bárbaro na Ifigénia entre os Tauros é visto como selvagem, inferior em relação à transcendência da civilização helénica. Esta visão revela uma clara dicotomia entre Helenos e Bárbaros que Eurípides nos mostra como, a ideia contemporânea da sua época, a percepção de que os Gregos seriam melhores, mais desenvolvidos do que qualquer outro povo estrangeiro.
A separação entre Grego e Bárbaro tem primeiramente a ver com uma fronteira geográfica que delimita os Civilizados e os que não o são, na obra euripidiana, os Bárbaros são os Tauros, que habitam a Crimeia nas margens do rio Negro.
Esta localização é importante, pois representa na concepção de superioridade helénica, um lugar remoto no espaço, com isto quero dizer que se encontra longe do progresso civilizacional Grego, para lá das rochosas Simplégades, para “além do controlável ou do «civilizado».” (Nuno Simões Rodrigues, Introdução, E. If, p. 16). E também «presos» no tempo, isto é, o povo Táurico é retrógrado, atrasado, não conseguiu acompanhar o desenvolvimento.
Esta noção de asselvajamento, incivilidade, para além de não residir nas práticas do povo Heleno, tinha mesmo costumagens consideradas simplórias, incultas, pouco corajosas, rudes, cruéis contrariamente aos costumes da grande Civilização Grega, tais como oferecer os estrangeiros em sacrifício, a inexistência do conceito de guarida, rituais religiosos sanguinários, lutar com pedras e paus ao invés de utilizar a espada.
Aliás, ao longo da obra é notório a cobardia, a selvajaria (Barbaridade), a simplicidade, a ingenuidade dos Tauros em contraposição com a valentia, o Helenismo, a arrogância, a sagacidade dos Helenos.
Por exemplo, quando o boieiro diz a Ifigénia que Orestes e Pílades lutavam sozinhos contra muitos, mas mesmo assim provocaram a fuga dos Tauros1, mostra-nos a bravura Helénica em comparação com a cobardia Bárbara. Também Ifigénia, ao dizer a Toas, rei dos Tauros que os estrangeiros2 estavam