Ideologia
Alípio de Sousa Filho*
Proporemos aqui entender que existe uma relação estrutural entre cultura, ideologia e representações. De início, convém esclarecer que o que concebemos por ideologia é algo, se não inteiramente, em grande medida diferente do conceito utilizado por legiões de autores em filosofia e ciências humanas. Assim como totalmente afastado do sentido dado ao termo por um certo senso comum social que já o tornou “conceito” da vida cotidiana: a ideologia como sinônimo de opinião, idéias, convicções.
Em outro lugar1, já assinalamos a necessidade de uma nova acepção para o conceito de ideologia que seja capaz de afastar inteiramente seu sentido como simplesmente equivalendo a idéias, opinião ou convicções e que seja capaz também de superar limitações da reflexão marxista sobre tal fenômeno, tratando-se da tradição teórica que mais longamente se ocupou do assunto. Esta tradição sempre vinculou a ideologia à dominação de classe e à existência do
Estado, vista como as idéias que legitimariam a existência desse poder separado da sociedade, dando-lhe uma aparência de neutralidade, ao serem capaz (como idéias) de ocultar que o
Estado é o órgão da dominação da classe econômica e politicamente dominante. A ideologia serviria para mascarar a divisão da sociedade em classes e o domínio particular de uma dessas classes através do Estado. Como crê a maioria dos autores que adotam essa concepção, a ideologia seria o modo próprio do imaginário das sociedades burguesas modernas, que, na sua função específica, asseguraria a reprodução das relações de produção capitalistas e, sob sua égide, a dominação econômica e política da burguesia. Ela seria, ainda, o instrumento que asseguraria essa dominação e, de modo próprio, somente se poderia pensar sua existência para o caso das sociedades nascidas com o advento do capitalismo. Trata-se aí, entretanto, de se ter tomado uma forma particular da ideologia na história – a