idade media
Estas histórias começam com um casamento e com uma morte. Elas nos falam de duas mulheres, uma jovem e nascida escrava, a outra velha e de família ilustre. Por suas origens, essas mulheres marcam os extremos tangíveis da riqueza, da influência e do poder na vida e na cultura brasileira do século XIX. Contudo, cada uma delas, à sua maneira, buscou impor sua vontade: a escrava, para evitar um marido indesejável; a privilegiada, para dotar a família de seus ex-escravos de recursos para uma vida livre. Suas tentativas as ligaram de modo ainda mais firme às relações de influência exercidas pelos homens que tinham poder em suas vidas: o fazendeiro e dono da escrava, que ordenou seu casamento, e seu tio e padrinho, também escravo; e outro fazendeiro que administrou os negócios da idosa tia enquanto ela vivia e que foi o testamenteiro depois que ela morreu. Assim, as histórias dessas mulheres não podem ser contadas sem incluir seus laços cruciais com esses homens experientes e importantes. Mas, mesmo as contando da forma mais completa possível, elas acabam de modo ambíguo. Ou, antes, elas não têm fim. Não é certo que a escrava tenha conseguido levar uma vida celibatária, embora adiante eu comente o que penso a esse respeito; e, de uma forma diferente, permanece inexplicado o que teria acontecido à família de escravos libertos.
O cenário amplo é o vale do rio Paraíba, no Sudeste do Brasil, durante os primeiros anos da década de 1830 até meados da década de 1860. De suas nascentes na serra do Quebra Cangalha, o rio corre primeiro para sudoeste até uma passagem entre as montanhas, onde muda abruptamente de curso ao descer para o vale e depois continua na direção nordeste, mais ou menos paralelo à costa pela maior parte de seus pouco mais de mil quilômetros. Alimentado na margem norte pelas águas da serra da Mantiqueira e, do lado sul, pelas águas que descem da cadeia de montanhas que seguem a costa para formar a serra do Mar, o Paraíba deságua no