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Texto sobre A Condição Humana: Em Português e numa cuidada tradução da Relógio d'Água, chega-nos A Condição Humana, muito provavelmente a mais importante obra filosófica de Hannah Arendt, a par de A Vida do Espírito. Ambas merecem, sem qualquer favorecimento de circunstância, destaque no melhor que se produziu em todo o séc. XX filosófico. A Condição Humana é um ensaio eminentemente filosófico sobre o agir público humano, agir livre e em pluralidade. Ou mais exactamente, sobre a vita activa, expressão latina com que Santo Agostinho se referia à acção relativa aos assuntos públicos e políticos. Mais do que As Origens do Totalitarismo (1951), que foi sobretudo uma grande obra de teoria política, este A Condição Humana (1958), embora posterior, constitui a primeira sistematização filosófica do pensamento político de Hannah Arendt em toda a sua originalidade.
O facto de Hannah Arendt ter adoptado o sentido agostinino da expressão vita activa tem um alcance evidente neste livro, pois vem afrontar toda uma tradição que opôs à necessidade da acção a liberdade da contemplação, o que não passará sem consequências. Com efeito, desde o declínio das cidades-estado antigas, a vita activa perdeu a dignidade de acção livre e passou a significar apenas a actividade dos homens enquanto movidos pela necessidade. O modo de ser liberto das necessidades da vida terrena transferiu-se para a vita contemplativa. Assim, a acção pública e política, ou simplesmente a acção, na sua especificidade política, viu-se despojada de valor, em detrimento da contemplação.
De acordo com a autora, seguem-se daqui consequências para a modernidade afirmo simplesmente que o enorme valor da contemplação na hierarquia tradicional obscureceu as diferenças e manifestações no âmbito da própria vita activa e que, a despeito das aparências, esta condição não foi essencialmente alterada pela moderna ruptura com a tradição nem pela eventual inversão da ordem hierárquica em