Homo Religiosus
HOMO RELIGIOSUS
Quando o guia desliga a lanterna, nas cavernas subterrâneas de Lascaux, na Dordonha, o efeito é arrasador. "De repente, os sentidos sucumbem, os milênios se encurtam", lembra um visitante. "Nunca na vida você esteve numa escuridão mais escura. É... não sei... um completo nocaute. Você não sabe se está indo para o norte, para o sul, para o leste ou para o oeste. Perde todo o senso de direção e está numa escuridão que nunca viu o sol." A consciência normal à luz do dia desaparece, você se sente "dissociado de toda preocupação, de toda exigência do mundo superior, que ficou para trás".1 Para chegar à primeira das cavernas decoradas por nossos ancestrais paleolíticos na Idade da Pedra, 17 mil anos atrás, os visitantes têm de percorrer, aos tropeços, os vinte e poucos metros de um túnel inclinado e penetrar cada vez mais nas entranhas da terra, afastando-se quase vinte metros da superfície do solo. Então, o guia subitamente dirige o facho de luz para o teto, e os animais pintados parecem emergir das profundezas da pedra.
Uma estranha criatura com a barriga túmida e longos chifres pontudos caminha atrás de uma fila de bois, cavalos, cervos e touros selvagens, que parecem, ao mesmo tempo, em movimento e em repouso.
No total, são uns seiscentos afrescos e 1500 gravuras no labirinto de Lascaux. Há um cervo negro bramindo, uma vaca saltando e um grupo de cavalos dirigindo-se para o lado oposto.
Na entrada de outra longa passagem conhecida como Nave, há um friso de elegantes cervos logo acima de uma saliência rochosa, de modo que eles dão a impressão de estar nadando. Vemos essas imagens muito mais claramente do que os artistas do Paleolítico as viam, pois eles trabalhavam à luz de tochas, precariamente instalados em andaimes que deixaram buracos na parede. Geralmente, pintavam novas figuras sobre imagens já existentes, embora houvesse amplo espaço vazio nas proximidades. Parece que a localização era crucial e, por motivos que
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