HOLOCAUSTO BRASILEIRO
A autora faz um breve relato sobre a carreira de Luiz Alfredo, que trabalhava na época para a prestigiada revista semanal O Cruzeiro, que circulou entre 1928 e 1975. A convite de Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais, o fotógrafo partiu ao lado do repórter José Franco para conhecer as instalações do hospital. O que encontrou lá o marcou profundamente, pois estava prestes a registrar as imagens mais dramáticas da sua carreira, embora não soubesse disso, quando se deparou com o portão de ferro que daria acesso ao interior do Colônia, em Barbacena, naquele abril de 1961.
Acostumados a tantas tragédias não puderam acreditar na cena que se desenhava.
Milhares de mulheres e homens sujos, de cabelos desgrenhados e corpos esquálidos cercaram os jornalistas. A primeira imagem que veio à cabeça de José Franco foi a do inferno de Dante. Difícil disfarçar o choque. O jornalista levou um tempo para se refazer e começar a rascunhar em seu bloco suas primeiras impressões. Já Luiz Alfredo, protegido pela sua Leica, decidiu registrar tudo que a lente da sua câmera fosse capaz de captar.
Dentro dos pavilhões, promiscuidade. Crianças e adultos misturados, mulheres nuas à mercê da violência sexual. Nos alojamentos, trapos humanos deitados em camas de trapos. Moscas pousavam em cima dos mortos-vivos. O mau cheiro provocava náuseas.
De volta à redação, o fotógrafo desabafou com Eugênio Silva, dizendo que aquilo não é um acidente, mas um assassinato em massa. Só precisei clicar a máquina, porque o horror estava ali.
Impressionado, o chefe de redação queria ver o material que se transformaria, cinco décadas mais tarde, no maior conjunto de imagens feitas no interior da unidade, e que fazem parte do livro Holocausto Brasileiro. Uma a uma, as três centenas de fotos foram sendo reveladas por Luiz Alfredo. À medida que a química imprimia forma no papel, o fotógrafo começou a ter ideia da dimensão da tragédia que havia