Histórico da União do Vegetal
O trabalho antropológico exige uma sensibilidade apurada de quem o pratica. É preciso estar atento a tudo o que está presente onde se pratica a pesquisa. Mais que isso, também é preciso estar atento ao que já aconteceu. Até mesmo porque a cultura não é estática, e o passado não está isolado nos séculos. A história vive, e aparece nos mais diversos aspectos culturais. Mais que isso: ela nos ajuda a perceber e criar explicações para as semelhanças existentes entre as culturas particulares, como no caso, por exemplo, do sincretismo religioso. Este deriva do processo da difusão cultural, que “consiste na propagação de elementos de uma dada cultura para outras culturas. Nesse processo observam-se trocas ou permutas de elementos culturais” (MELLO, 2008, p. 104). Foi nessa perspectiva teórica que nos baseamos para fazer nossas observações.
HISTÓRICO GERAL
Mestre Gabriel
José Gabriel da Costa nasceu em 10 de julho de 1922, na Bahia, no município de Coração de Maria. No início da década de 40, deixou o Nordeste para morar no Norte, como seringueiro.
Em Rondônia, no seringal, José conhece o Chá, através de um “mestre de curiosidades” (Chico Lourenço), e o toma pela primeira vez em 1959. A partir daí, passa a se reunir com os ”mestres de curiosidades” em sessões para tomar o Vegetal (o Chá) e, ainda sem uma religião formada, é considerado mestre superior, ministrando-o. “Recria” 1, em 1961, a UDV – União do Vegetal. Mestre Gabriel morreu em 24 de setembro de 1971, pouco depois de a UDV ter sido registrada oficialmente. 2
Uma nova religião – UDV
Partindo do conceito de religião dado por Durkheim (1996, p. 18), ela “é um sistema mais ou menos complexo de mitos, de dogmas, de ritos, de cerimônias”. Sendo assim, pode-se dizer que a UDV é uma religião, pois há a crença em mitos relativos às origens da mesma, e, como qualquer outra religião, tem ritos e cerimônias que fazem parte das suas atividades. A UDV não surgiu devido a uma ruptura