História
Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 161 – 179, jan/jun. 2011
DO RIO DE JANEIRO PARA A SIBÉRIA TROPICAL: prisões e desterros para o Acre nos anos 1904 e 1910.
Francisco Bento da Silva *
Resumo
Neste artigo procuraremos trazer à tona alguns aspectos obscuros de dois acontecimentos que marcaram a nascente República brasileira no alvorecer do século XX: a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta dos Marinheiros (1910). Alguns destes aspectos estão relacionados com as os desterros, que foram adotados como punição pelo Estado brasileiro após o fim destes eventos que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro. O que permanece obscuro é o porquê daqueles homens e mulheres serem condenados ao desterro e o que levou o Estado brasileiro a enviá-los para o Território do Acre, na Amazônia. Objetivamos neste breve texto situar dentro das normas e enquadramentos jurídicos adotados na época, os intentos e sentidos de tais medidas. Discutindo também os significados das percepções das punições impostas aos desterrados na perspectiva da ordem republicana, bem como os propósitos — simbólicos e práticos — de serem enviados para os “confins” da Amazônia, no Acre. Palavras-chave: Desterros. Revolta da Vacina. Revolta da Chibata. Amazônia. Acre.
Prelúdio
Quem são estes desgraçados que não encontram em vós mais que o rir calmo da turba que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, se a vaga à pressa resvala como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Navio Negreiro (1868), Castro Alves
*
Francisco Bento da Silva é professor do Centro de Ciências Humanas da UFAC. Graduado em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado em História. Contato: chicobento_ac@yahoo.com.br.
DO RIO DE JANEIRO PARA A SIBÉRIA TROPICAL: prisões e desterros para o Acre nos anos de 1904 e 1910 Francisco Bento da Silva
No início do século XX, nos últimos semestres dos anos de 1904 e 1910, a cidade do Rio de Janeiro foi tomada por duas Revoltas de grandes impactos e múltiplos