História e Literatura
Luiz Costa Lima
G
ostaria de oferecer esta palestra a alguns daqueles que foram meus mestres no Recife: Potiguar Matos, meu professor de história no Colégio
Nóbrega e Rui Antunes, professor de Direito Penal, na Faculdade de Direito; e àqueles com quem convivi no Recife, antes de 1964 e que já não estão conosco:
Gastão de Holanda, João Alexandre Barbosa, Jorge Wanderley, José Laurênio de
Melo, Paulo Freire, Sebastião Uchoa Leite.
Esclareço, desde logo, que, do tríplice enlace feito no livro História. Ficção.
Literatura. tratarei aqui apenas de uma pequena parte do tema desenvolvido na segunda seção, a seção b – Ficção – procurando explorá-lo de um modo que não se encontra na versão impressa.
Quando se pensa no que significa ‘ficção’ e na extensão de seu alcance, o que primeiro nos chama a atenção é o descaso com que, até data recente, o pensamento ocidental a considerou. Assim, embora o latim clássico reconhecesse no termo ‘fictio’ a dupla acepção até hoje encontrada nas línguas que dele derivavam, fictio significando tanto ‘invenção, criação’, como ‘mentira, fraude’, na verdade a primeira e positiva acepção não era desenvolvida. Para isso, concorreram dois fatores: (a) o fato de, na passagem do grego para o latim, o duplo caminho que abrira Aristóteles, a indagação da poética e o da retórica, diferenciados mesmo pela autonomia dos dois tratados que dedica aos temas, a
Poética e a Retórica, reduz-se em Roma a uma única via, a da retórica. A retórica preocupa-se com a armação da linguagem capaz de seduzir e convencer. A subordinação da poética à retórica significava que a preocupação com a beleza se reduzia ao propósito pragmático de constituir-se um texto sedutor. Assim, se
Revista Eutomia Ano I – Nº 01 (167-176)
História. Ficção. Literatura. Uma breve apresentação
estabelecia um critério para a arte verbal que só a prejudicava: belo é o texto passível de ser