Historiador, macaco e centaura
Apesar das distâncias culturais gigantescas, podemos observar a conivência estabelecida entre a semideusa do paganismo grego e o deus ameríndio que compartilham dos meios – a flor – de conhecer o porvir. Não pode haver então melhores guias para tecer conjecturas sobre o que deverá ser a “história cultural” neste milênio.
1. Etnocentrismos. A análise do afresco nos obriga a sair duma visão europocêntrica e etnocêntrica da História
Os especialistas da história mundial, tenderam a elaborar sua visão do mundo a partir da Europa ocidental ou de problemáticas que provinham da história deste continente. Desde os anos de 1980, nas universidades dos EUA, os estudos culturais e estudos pós-coloniais multiplicaram as suas críticas contra o europocentrismo da história e das ciências sociais em geral. Denunciavam e denunciam uma história que só seria a projeção do Ocidente, de suas categorias e de suas ambições em relação ao resto do mundo. Porém, o etnocentrismo não é só de origem europeia.
2. A história comparada
Para limitar o etnocentrismo e ampliar os nossos horizontes, a história com- parada pareceu uma alternativa possível. Mas as perspectivas que propõe podem ser enganosas. A seleção dos objetos que têm de ser comparados, dos quadros e dos critérios, as perguntas, as mesmas grilles de interpretação continuam sendo tributárias de filosofias ou de teorias da história que muitas vezes já contêm as respostas às questões do pesquisador. No pior dos casos, a história comparada pode aparecer como uma ressurgência insidiosa do etnocentrismo. Além disso, no campo da “história cultural”, como comparar culturas se as mesmas são entidades que remetem mais à nossa tradição antropológica do que a qualquer realidade histórica atual ou passada? O termo “cultura” tomou tantos sentidos que se tornou inutilizável.
3. A história conectada
Parece-me que a tarefa do historiador pode ser a de exumar as ligações históricas