historia

O PAN-AFRICANISMO

O século XX já foi adjetivado de várias formas. Talvez a mais conhecida seja a de Eric Hobsbawm, “breve século XX”. Essa brevidade foi densa quanto à arbitrariedade e ao exercício da violência responsável por horrores inaceitáveis, em especial os derivados das discriminações, como os que caracterizaram os totalitarismos e o apartheid. Além desses horrores em graus exacerbados, lembramos também de crueldades derivadas da violência institucional e simbólica como as referentes às questões raciais dos negros. Essa situação a partir da modernidade tem raízes histórico-culturais no tráfico atlântico de escravos, elemento fundamental do sistema colonial do século XVI, e foi reforçada pelo imperialismo colonial de fins do século XIX na África. Para esse corpo ideológico foi fundamental o papel da etnografia europeia da segunda metade do século XIX, cujo ponto de partida era o pressuposto de que apenas os ocidentais porque “mais aptos” e “mais capazes” podiam, de acordo com uma nova consciência planetária, conceber e apresentar ideias sobre os povos coloniais. Temos aqui o ponto central em torno do qual se organizaram as exposições universais, verdadeiros rituais de massa em que os grandes impérios se afirmavam segundo sistemas classificatórios tanto para os produtos em exibição como para os povos e as nações participantes. Assim, povos e culturas expostos obedecendo a uma organização temporal eram classificados em selvagens, bárbaros e civilizados; em uma palavra, o planeta foi dividido entre uma raça superior glorificada por uma missão civilizatória auto-atribuída e raças inferiores. A noção de raça é fruto da ruptura com a tradição fundamental da condição humana, tão cara ao Direito Natural, qual seja, “o direito a ter direitos e começar pelos inatos”. Significa dizer que são quebradas as condições de razoabilidade de um modo comum, compartilhado, caracterizado pela pluralidade, tendo como fundamento a igualdade da condição humana. A