Historia da educação
Capítulo 1
OS JESUÍTAS – CATEQUESE E COLONIZAÇÃO
1. Nosso Ponto de Vista
A bibliografia tradicional aborda a atuação dos jesuítas em uma vertente positiva, destacando o jesuitismo civilizador: vai da década de 30, com a obra do padre Serafim Leite, até a de 60, englobando os que seguem esse historiador oficial da Companhia de Jesus, como Fernando de Azevedo, e os autores que se apóiam em ambos, inclusive a volumosa produção que apareceu por ocasião do IV Centenário de São Paulo nos anos 50. A bibliografia das décadas de 70 e 80 tem uma vertente mais crítica e negativa, mostrando o jesuitismo, guerreiro. Muitos dos seus autores apareceram no interior da própria Igreja, como Riolando Azzi e Eduardo Hoornaert. Outros vieram de diferentes campos do conhecimento, em particular das ciências sociais, como o antropólogo Luiz Felipe Baeta Neves. Hoje os estudos adotam uma posição mais equilibrada e procuram ver os jesuítas como homens de seu tempo. Esta é a linha que vamos seguir. Recorrendo a conceitos de diversos campos de conhecimento, vamos construir uma "visão quinhentista de mundo” para poder ver a atuação dos jesuítas a partir do seu próprio tempo histórico.
2. Visão Quinhentista de Mundo: Duas Diacronias, Dois Projetos
O primeiro conceito é o de “cristandade”, ou orbis christianus, usado por José Maria de Paiva e Luiz Koshiba; significa que na primeira metade do século XVI, em Portugal, Igreja e Estado estão unidos por interesses comuns, que ainda são medievais (tardo-medievais, como diz Alfredo Bosi). Nobreza e clero querem defender a estrutura social tripartite e hierarquizada - os que lutam, os que rezam e os que trabalham - definida pelos teólogos do século XII, e manter seus privilégios, aceitando as restrições da Igreja à acumulação de capital e à livre produção e livre contratação da força de trabalho