Hermenêutica
2. Historicidade e linguagem sobre Wittgenstein
Contrapondo-se à negação da história representada pelo cientificismo positivista e neopositivista, existe uma linha de filósofos que parte de Nietzsche e passa por Heidegger e pelos existencialistas, afirmando a historicidade do homem e do seu conhecimento. Essa postura anticientífica e historicista é tipicamente qualificada como a filosofia continental, em oposição à filosofia analítica de matriz tipicamente anglo-saxã[8]. Porém, por mais que essa divisão persista até os dias de hoje, sendo caracterizáveis diferenças fundamentais na formação típica dos filósofos e dos estilos de discurso envolvidos no labor filosófico[9], as linhas de força que inspiram esses grandes modelos passaram a se encontrar com bastante freqüência, especialmente no período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Um dos maiores responsáveis por essa convergência foi Wittgenstein, que é um dos filósofos da linguagem mais lidos pela tradição continental, especialmente porque ele propôs em suas obras póstumas conceitos lingüísticos que se contrapunham à filosofia analítica tradicional e que abriram espaço para uma espécie de historicização da linguagem. Em vez de se preocupar apenas com a formalização da linguagem e da garantia de rigor e precisão necessários para uma linguagem científica, Wittgenstein foi o grande responsável pelo nascimento de uma filosofia da linguagem ordinária, em que a busca não era a de estabelecer uma linguagem purificada, mas de compreender o modo como as linguagens naturais efetivamente funcionam.
O principal conceito que ele desenvolveu foi o de jogo de linguagem[10], rompendo com a noção cientificista de que a perfeição lingüística estava no rigor e na precisão, e afirmando existência de uma pluralidade de jogos lingüísticos, cada qual com suas regras e elementos. Segundo Warat[11], contrapondo-se à idéia de que a linguagem natural era inadequada ao conhecimento, Wittgenstein passou a