hermeneutica
Anna Paula Bagetti Zeifert1
1.1 CONCEITO E ASPECTOS HISTÓRICOS DO VOCÁBULO “HERMENÊUTICA”
O vocábulo “hermenêutica” originalmente designa expressão de um pensamento, sugerindo um processo de “tornar compreensível”, para interpretar o sentido das palavras, interpretar textos sagrados, interpretar as leis. O verbo hermeneuein e o substantivo hermeneia estão ligados ao Deus da mitologia grega Hermes, sacerdote do oráculo de Delfos, que era tido perante os gregos como sinônimo da trapaça e da astúcia, nos dizeres de Junito Brandão (1987, p. 181) “um verdadeiro ‘trickester’, protetor de amigos e de ladrões”.
Por outro lado, a imagem de Hermes era atribuída à descoberta da linguagem e da escrita tendo, como principal missão, transmitir e interpretar as mensagens2 enviadas pelos deuses aos homens e vice-versa; possuía uma função anunciadora.
Nesse sentido a hermenêutica, entendida como arte de interpretação de textos, de descoberta do seu significado, é tão antiga quanto o é a expressão escrita do pensamento grego, como mostra Ferrater Mora, referindo-se a Platão e Aristóteles. Esse autor, inclusive dedica parte de sua obra Organon ao tema, sob o título de Peri Hermeneias.(cf. verbete “hermenêutica”, p.1493). É, no entanto, na tradição da exegese bíblica e de textos normativos que o tema da hermenêutica vai ter sua linha de continuidade ao longo dos séculos que nos separam do pensamento grego, embora o vocábulo não permaneça imutável (LIMANA, 1998, p.7-8).
Para Richard Palmer (1986), existem três orientações que exemplificam o significado da forma verbal hermenêutica, possuindo diferentes sentidos:
1) exprimir em voz alta, ou seja, dizer está diretamente relacionado à função anunciadora do Deus da mitologia grega Hermes. Teve influência, também, do ponto de vista teológico, já que o sacerdote estaria proclamando, tal como Hermes, a palavra de Deus, de maneira a ser seu mensageiro;
2)