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Dos frades em geral. — O frade moralmente considerado, socialmente e artisticamente. — Prova-se que é muito mais poético o frade do que o barão. — Outra vez D. Quixote e Sancho Pança. — Do que seja o barão, sua classificação e descrição lineana. — História do Castelo de Chucherumelo. — Erro palmar de Eugénio Sue: mostra-se que os jesuítas não são a cólera-morbo, e que é preciso refazer o «Judeu Errante». — De como o frade não entendeu o nosso século nem o nosso século ao frade. — De como o barão ficou em lugar do frade, e do muito que nisso perdemos. — Única voz que se ouve no actual deserto da sociedade: os barões a gritar contos de réis. — Como se contam e como se pagam os tais contos. — Predilecção artística do A. pelo frade: confessa-se e explica-se esta predilecção.
FRADES... frades... Eu não gosto de frades. Como nós os vimos ainda os deste século, como nós os entendemos hoje, não gosto deles, não os quero para nada, moral e socialmente falando.
No ponto de vista artístico, porém, o frade faz muita falta.
Nas cidades, aquelas figuras graves e sérias com os seus hábitos talares, quase todos pitorescos e alguns elegantes, atravessando as multidões de macacos e bonecas de casaquinha esguia e chapelinho de alcatruz que distinguem a peralvilha raça europeia — cortavam a monotonia do ridículo e davam fisionomia à população.
Nos campos o efeito era ainda muito maior: eles caracterizavam a paisagem, poetizavam a situação mais prosaica de monte ou de vale; e tão necessárias, tão obrigadas figuras eram em muitos des- ses quadros, que sem elas o painel não é já o mesmo.
Além disso, o convento no povoado e o mosteiro no ermo anima- vam, amenizavam, davam alma e grandeza a tudo: eles protegiam as árvores, santificavam as fontes, enchiam a terra de poesia e de solenidade.
O que não sabem nem podem fazer os agiotas barões que os substituíram.
É muito mais poético o frade que o barão.
O frade era, até certo ponto, o Dom Quixote da sociedade velha. O