Gramsci e o capitalismo
Ivete Simionatto - 1997
1. A perspectiva de totalidade
O pensamento gramsciano tem sido abordado das mais variadas maneiras, seja nos meios acadêmicos, seja nos meios políticos. Se, por um lado, Gramsci é analisado como um pensador reformista (tema tão em voga nos dias atuais), e, por outro, como elaborador de uma teoria revolucionária de ocupação de trincheiras no interior do aparelho do Estado, é importante sinalizar que, na presente abordagem, Gramsci será tomado como pensador marxista cuja obra é perpassada por uma visão crítica e histórica dos processos sociais. Isto porque Gramsci não toma o marxismo como doutrina abstrata, mas como método de análise concreta do real em suas diferentes determinações. Debruça-se sobre a realidade enquanto totalidade, desvenda suas contradições e reconhece que ela é constituída por mediações, processos e estruturas. Essa realidade é analisada pelo pensador a partir de uma multiplicidade de significados, evidenciando que o conjunto das relações constitutivas do ser social envolve antagonismos e contradições, apreendidos a partir de um ponto de vista crítico que leva em conta a historicidade do social, sendo este, segundo Gramsci, o único caminho fecundo na pesquisa científica. Se o pensamento dialético funda-se na perspectiva da totalidade e da historicidade, não é outra a perspectiva do autor em questão.
Demarcar o ponto de vista da totalidade na análise do real significa contrapor-se à "razão cínica" ou à "miséria da razão", que afirmam-se cada vez mais como perspectivas particularistas e manipulatórias consonantes às manifestações multifacetadas, características da realidade contemporânea. A inserção dos indivíduos no espaço social, na atualidade, vem ocorrendo de forma crescente através de ações multidimensionais, descontínuas e fragmentárias. A vida social, enquanto totalidade, é, no dizer de Jameson (1996), mais irreconciliável com a lógica que preside o mundo