gramatica
Este capítulo do livro “Preconceito Linguístico” de Marcos Bagno, aborda uma crítica ao porque a linguagem é a única disciplina que existe uma disputa entre duas perspectivas distintas: a doutrina gramatical tradicional, surgida no mundo helenístico no século III A.C., e a linguística moderna, que se firmou como ciência autônoma no final do século XIX e início do XX.
Bagno inicia comentando que hoje, claro, já é considerado equivocado alguém dizer que a terra é plana, que o sol gira em torno da terra. Essas são ideias ultrapassadas e que começaram a ser substituídas por novas concepções mais verossímeis. Mas ninguém se espanta se um professor ainda ensina as formas arcaicas de nossa língua. Os termos e conceitos da gramática tradicional-estabelecidos há mais de 2.300 anos, continuam a ser repassados praticamente intactos de uma geração de alunos para outra, como se desde aquela época remota não tivesse acontecido nada na ciência da linguagem. Querer cobrar, hoje em dia, a observância dos mesmos padrões linguísticos do passado é querer preservar, ao mesmo tempo, ideias, mentalidades e estruturas sociais do passado.
O ensino tradicional opera uma imobilização do tempo, um apagamento das condições sociais e histórias que permitiram o surgimento e a permanência da gramática tradicional. A língua assim, não fica sendo vista como objeto cientifica, e os mais importantes cientistas da linguagem (Grimm, Saussure, Jakobson, Sapir, Chomsky, Labov etc.) não têm lugar na galeria dos grandes pensadores que revolucionaram nosso modo de encarar o mundo e o que existe nele.
A gramática tradicional é uma ideologia linguística, o lugar das certezas, uma doutrina sólida e compacta, com uma única resposta correta para todas as dúvidas. Já a linguística moderna, encara a língua como um objeto passível de ser analisado e interpretado, ela devolveu a língua ao