Globalizaçaõ
A globalização é, porventura, o fenômeno mais marcante das sociedades contemporâneas. Ela influência a nossa maneira quotidiana de viver, de maneira que não nos são imediatamente apreensíveis, mas que condicionam fortemente os nossos comportamentos mais expostos ou mais íntimos, desde a política e a economia, à sexualidade, à família ou à religião. Principalmente, importa esclarecer que a globalização não é algo que tenha a ver exclusivamente com o mundo dos negócios e da finança internacional, e os seus atores não são apenas – nem fundamentalmente – os Estados. Como diz Giddens, “é um erro pensar-se que a globalização só diz respeito aos grandes sistemas, como a ordem financeira mundial. A globalização não é apenas mais uma coisa que ‘anda por aí’, remota e afastada do indivíduo. É também um2 Nuno Vieira de Carvalho fenômeno ‘interior’, que influencia aspectos íntimos e pessoais das nossas vidas”.
Nesse sentido, a globalização tem conseqüências em praticamente todas as esferas da nossa vida social: “Nem os cépticos nem os radicais compreenderam inteiramente o que é a globalização ou quais são as suas implicações em relação às nossas vidas. Para ambos os grupos, trata-se, antes de tudo, de um fenômeno de natureza econômica. O que é um erro. A globalização é política, tecnológica e cultural, além de econômica”.
Ao longo deste ensaio, indagaremos até que pontos essas conseqüências se refletem nas práticas culturais em contexto urbano. Em sentido lato, entendemos por este conceito o processo histórico em curso, que consiste no adensamento das redes de interdependência à escala planetária, produzindo fenômenos de integração e de hegemonia, mas, simultaneamente, de cisão. Esta dinâmica observa-se nas práticas dos públicos urbanos da arte – e é este o objetivo deste ensaio. Devemos esclarecer que assumimos como ponto de partida que a globalização não é intrinsecamente boa nem má. Como processo histórico em curso, tem aspectos positivos e outros negativos